O papel da mulher na agricultura familiar: dois estudos de caso
Palavras-chave:
agricultura familiar, trabalho feminino, mulher ruralResumo
O presente artigo discute aspectos do trabalho feminino nas estratégias desenvolvidas por agricultores familiares mineiros para garantirem o acesso e a permanência à terra. Foram desenvolvidos estudos de caso em duas comunidades – uma de constituição mais antiga, Boa Vista, município de Itaguara, MG e outra recentemente constituída, o Assentamento Dom Orione, Betim, MG – onde foi possível observar a importância do papel da mulher, com sua luta e seu trabalho, na composição das estratégias familiares. A comunidade de Boa Vista vem sofrendo alterações na dinâmica produtiva das famílias em decorrência do declínio da renda agrícola, fazendo com que o artesanato em tear, que é uma tradição da comunidade, ganhe importância econômica cada vez maior. Esta atividade envolve todos os membros da família, mas são as mulheres que se destacam por coordenarem as atividades e por serem elas as artesãs, conhecedoras do ofício. A nova importância do artesanato em tear vem redefinindo as relações de gênero na família e também fora dela. Isso não traz, no entanto, mudanças mais profundas no padrão cultural: apesar de modificar mulheres e homens, eles mantêm e reafirmam as relações de gênero e, nestas, a subordinação do papel feminino. Já a história de vida das famílias que estão no Assentamento Dom Orione revela aspectos de alteração do padrão de comportamento e do papel da mulher na família. De origem rural, essas famílias viveram intensos processos migratórios, motivadas pela busca de terra e trabalho. As mulheres representaram força de trabalho, de organização comunitária e desempenharam papel fundamental na criação de filhos e cuidados com a família. Destaca-se que o Assentamento está localizado na região metropolitana de Belo Horizonte e as famílias dedicam-se principalmente a atividades agrícolas, não sendo marcantes as atividades não agrícolas desenvolvidas por elas. Assim, o trabalho agrícola feminino torna-se auxiliar e subordinado ao homem. Além disso, a participação das mulheres na gestão comunitária se dá apenas de forma secundária, ocupando postos de menor poder político. O ambiente agrícola desse espaço rural que é, ao mesmo tempo, muito próximo do urbano, exerce fortes mecanismos de controle do papel desempenhado pelas mulheres.