RESPIGADORAS MODERNAS E PRODUÇÃO DA EXISTÊNCIA NO AGRONEGÓCIO CANAVIEIRO: A (DES)REALIZAÇÃO NO TRABALHO DE BITUQUEIRAS
Abstract
Esta pesquisa analisa as estratégias de defesa individuais e coletivas (DEJOURS) mobilizadas por trabalhadoras do agronegócio
para lidar com o estranhamento do trabalho (ANTUNES) e os mecanismos sociais de habituação do trabalhador (BRAVERMAN).
A partir dessa tríade conceitual busca-se responder à seguinte questão: como as bituqueiras mobilizam defesas na realização de
um trabalho que é rigidamente organizado e precário? Para a coleta de dados utilizou-se a técnica de entrevistas semiestruturadas
com nove trabalhadoras que exercem o trabalho de bituqueiras. O método de análise de conteúdo foi empregado na análise das
entrevistas. Os resultados mostram que essas trabalhadoras mobilizam diferentes estratégias individuais que se tornam a base para um
sistema social de defesa: (1) medo da demissão devido às poucas opções de trabalho locais para a mulher com baixa qualificação e à
necessidade de sobrevivência; (2) ansiedade frente aos riscos gerados por uma atividade laboral que causa sofrimento físico e mental;
(3) angústia e raiva ao lidar com desigualdades nas questões de gênero; (4) valorização do prazer de adquirir produtos vis-à-vis o
impossível prazer de um trabalho libertador; e (5) busca de sentido para a sua existência vis-à-vis a crueldade da estigmatização e o
“nojo social”. O artigo mostra o potencial da tríade conceitual utilizada na pesquisa para uma compreensão das relações interníveis:
estratégias de defesa dos trabalhadores, sistemas coletivos de defesa, processos da gestão empresarial e processos socioeconômicos.